Central de Atendimento: (67) 3521-8891
Postado 13/08/2022 às 11:07:49 por Farmacêutico | ANFARMAG (Revista 118)
Comer para crescer
Como lidar com as mudanças fisiológicas relacionadas à puberdade em meio a alterações das necessidades nutricionais.

A adolescência é um período de crescimento intenso. Momento de amplo desenvolvimento físico, mental, emocional, sexual e social. É na adolescência que se adquire 20% da estatura final e 50% da massa corporal do adulto. Já a massa óssea aumenta em 45% e ocorre importante remodelamento ósseo. Além disso, vários tecidos e órgãos aumentam, assim como a massa eritrocitária.

Por isso, um componente essencial nessa etapa da vida é a alimentação. De acordo com a nutricionista Renata Carrano, que atua em São Paulo (SP), as necessidades diárias da maioria dos minerais duplicam-se durante a adolescência, principalmente em relação ao cálcio, ferro e zinco. Além disso, ela destaca que dietas restritivas e competições esportivas influenciam a mineralização óssea, causando osteopenia, osteoporose, amenorreia e atraso puberal. Do total de cálcio corporal, 97% estão contidos na massa esquelética, e essa proporção aumenta drasticamente durante o estirão puberal, quando o depósito diário de cálcio é quase o dobro do incremento médio para todo o período de crescimento, sendo ainda maior para os rapazes.

“O conteúdo de cálcio é dependente da estatura e, portanto, um adolescente alto no percentil 95 pode necessitar de 36% mais cálcio que um adolescente baixo e no percentil 5”, ressalta. Já no sexo feminino, Renata afirma que essa diferença é de cerca de 20% entre mulheres mais altas e mais baixas, e que aproximadamente 20% a 30% do cálcio ingerido é absorvido, por isso a recomendação de ingestão diária desse mineral depende das necessidades de cada adolescente.

Carrano pontua que a falta de zinco tem sido associada a um retardo no crescimento, bem como ao hipogonadismo, à diminuição da sensação do paladar e à queda de cabelos em adolescentes com anorexia, bem como em atletas e gestantes. A necessidade de suplementação dos minerais dependerá da variedade e da qualidade da dieta, principalmente durante o estirão puberal.

As necessidades vitamínicas estão ampliadas na puberdade devido ao aumento do anabolismo e do gasto energético. Outros fatores também contribuem para esse aumento, como atividade física, gravidez, contracepção oral e doenças crônicas. O aumento da necessidade das vitaminas A, C e D e do complexo B é progressivamente maior durante o estirão puberal, com as diferenciações celulares e a mineralização óssea. A suplementação com ácido fólico, 400mcg/ dia, pode ser prescrita de rotina para adolescentes sexualmente ativas ou grávidas e de baixo nível socioeconômico. Deficiências vitamínicas são mais frequentes em adolescentes que não têm o hábito da ingestão diária de frutas, vegetais, leite ou cereais.

Cada indivíduo, influenciado por fatores genéticos, hormonais e ambientais, apresenta um ritmo de crescimento diferente e vivencia essas transformações biopsicossociais de maneiras diversas. De acordo com a nutricionista Luana Alves, de Belo Horizonte (MG), a carência de macronutrientes e de micronutrientes pode provocar alterações no desenvolvimento. “Deficiências nutricionais causadas por um consumo energético reduzido ou por um excesso de alimentos pobres em nutrientes podem provocar prejuízos nessa fase, como retardo no crescimento e na maturação óssea, atraso na menstruação e na maturação dos órgãos sexuais”, afirma.

Por outro lado, somada aos inúmeros processos acontecendo, a maturação sexual é um dos fatores que pode gerar alterações na composição corporal, acarretando maior anabolismo e aumento de apetite. O cuidado deve ser na escolha dos alimentos para garantir a qualidade dos nutrientes disponíveis ao organismo.

O ajuste da alimentação nessa fase é fundamental para prevenir doenças futuras. A alimentação inadequada está relacionada à maior propensão para diabetes tipo 2, dislipidemias e hipertensão arterial, que são cada vez mais comuns nessa faixa etária e elevam o risco de eventos cardiovasculares no futuro. “É durante essa etapa que se inicia a prevenção das principais situações de risco nutricional: desnutrição crônica, anorexia, bulimia, anemia, osteopenia, obesidade, aterosclerose, gravidez e lactação”, complementa Carrano.

Desnutrição

O diagnóstico de desnutrição é mais provável em adolescentes baixos, com atraso puberal e alimentação deficiente. Nesses casos são necessárias intervenções clínicas e nutricionais para a melhoria do padrão alimentar, assim como um ambiente de cuidados e de novas conexões afetivas e sociais, em ações de prevenção e de educação em saúde.

Uma vez comprovada a deficiência de um nutriente, o aumento da sua ingestão pode ser feito por meio da alimentação habitual e com auxílio de suplementos. “O uso de suplementos deve ser avaliado individualmente”, comenta a nutricionista Luana Alves.

A nutricionista Renata Carrano aponta que deve-se levar em conta as diferenças entre os sexos. De acordo com ela, nas meninas, a aceleração do crescimento se inicia dois anos antes em relação aos meninos, havendo término do crescimento igualmente mais precoce e com menor amplitude. Os incrementos no sexo feminino se fazem mais à custa de gordura e, no masculino, de massa muscular, o que se reflete de maneira diversa sobre as necessidades nutricionais. Principalmente durante o estirão, é necessário, para os garotos, maior aporte proteico e energético, bem como mais ferro por quilograma do que no caso feminino. No término do crescimento, explica Carrano, há duas vezes mais gordura e apenas dois terços de massa muscular presentes no sexo feminino em relação ao masculino.

Anemia

O desenvolvimento de anemia é um dos problemas mais frequentes na adolescência, sendo a mais comum a ferropênica. A necessidade de ferro aumenta com o crescimento da massa muscular, do volume sanguíneo e da capacidade respiratória, além das perdas menstruais e do aumento de exercícios. “O conteúdo de ferro da alimentação é também bastante variável, de 4mg/kcal a 6mg/kcal. Portanto, adolescentes que têm hábitos alimentares deficientes não conseguirão receber o total das necessidades de ferro durante o estirão puberal e o início das menstruações, calculadas em torno de 15mg a 18mg diárias”, explica Renata Carrano.

Além da carência de ferro, nessa fase pode-se também encontrar anemia por deficiência de folato ou vitamina B12. É sempre importante investigar a causa para entender se se trata de uma questão nutricional ou se é uma manifestação de outra doença subjacente.

A anemia pode ser definida como a taxa de hemoglobina menor que 11,6 g/dl, ou de hematócritos menor que 35%. “Sintomas como cansaço, sonolência, tonturas, cefaleias e queda do rendimento escolar podem passar despercebidos até o agravamento da anemia”, revela Carrano. Porém, com acompanhamento o tratamento pode ser realizado com sucesso. “O tratamento consiste na orientação nutricional com alimentos que contenham ferro, principalmente com o radical heme, e com suplementação medicamentosa de ferro associada a uma fonte de vitamina C para melhor absorção”.

“No caso de uma anemia ferropênica já instalada, a suplementação de ferro é fundamental, porém devemos ficar atentos a outros nutrientes que também estão relacionados ao metabolismo do ferro, como magnésio, zinco, vitamina A e vitamina C”, diz Luana Alves.

O QUE FORMULAR?

Ferro (quelato)*.................................................................................................................................20mg
Vitamina C revestida......................................................................................................................100mg
Excipiente qsp...........................................................................................................................1 cápsula
* Aplicar fator de correção em relação ao teor do ferro elementar, de acordo com o laudo de análise.

Posologia: a critério do profissional habilitado, tomar 1 cápsula via oral ao dia. Atentar para os valores de IDR (Ingestão diária recomendada) e UL (Tolerable Upper Intake Level) relacionados a cada faixa etária. De acordo com o acompanhamento nutricional, avaliar a dose mais adequada de uso de acordo com a idade do paciente. A administração de ferro por períodos maiores que 6 meses deve ser evitada.

Indicações: anemia ferropriva, anemias carenciais, deficiência do micronutriente ferro. Associado à vitamina C, o ferro tem maior poder de absorção, devido ao pH ácido. Deve-se iniciar o tratamento com pequenas doses, a fim de amenizar os efeitos colaterais (náuseas, vômitos, cólicas intestinais, diarreias ou constipação).

Fontes: 1. Batistuzzo, J. A. O; Itaya, M.;Eto, Y. Formulário Médico Farmacêutico, 5ª ed. São Paulo: Atheneu, 2015.
2. Ruiz, K. Nutracêuticos na Prática – Terapias Baseadas em Evidências, 2º edição. São Paulo: Medfarma, 2017.
3. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Instrução Normativa nº 28, de 26 de julho de 2018. Estabelece as listas de constituintes, de limites de uso, de alegações e de
rotulagem complementar dos suplementos alimentares.
4. Duarte APG, Abuassi C. Abordagem do adolescente com anemia. Adolesc. Saúde. 2009;6(3): 41-46.

Fonte: ANFARMAG